sexta-feira, 11 de novembro de 2011

VAI UM CAFEZINHO AÍ?

Em 1932, os JOGOS OLÍMPICOS foram realizados em Los Angeles, nos Estados Unidos. Três anos antes, em 29, com a queda da Bolsa de Valores de Nova York, o mundo enfrentava uma grande crise financeira e a competição olímpica sentiu isso na pele, apesar de todo esforço do comitê organizador.
Los Angeles já havia tentado por duas vezes sediar a competição e, finalmente foi escolhida, embora, apenas 37 países se fizeram presentes, num total de 1332 atletas, disputando 16 modalidades e, mesmo assim, o nível técnico foi alto, com 16 recordes mundiais sendo superados. Foi a partir daí que os atletas passaram a receber suas medalhas no alto do pódio, com as bandeiras sendo hasteadas durante a premiação.
Além disso, foram utilizados excelentes sistemas de cronometragem e fotografia eletrônica, bem como, pela primeira vez foi planejada uma Vila Olímpica, com toda uma infraestrutura, dotada de hospitais, refeitórios, ginásios para os treinamentos, correios, entre outros órgãos e com duas emissoras de rádio transmitindo as competições.
No Brasil, o esporte estava no final de uma lista de prioridades, porém, o recém-empossado Presidente Getúlio Vargas ofereceu um meio de transporte para que a CBD (Confederação Brasileira de Desportos) pudesse levar sua delegação.
E o navio Itaquicê zarpou do Porto do Rio de Janeiro com 375 pessoas, embora apenas 82 fossem atletas e o restante eram  dirigentes, treinadores e os já tradicionais bicões.Além dos passageiros, também embarcaram 55 mil sacas de café e a condição imposta por Vargas era que os atletas vendessem nosso rico café nos portos, durante o percurso até Los Angeles, para que pagassem suas passagens.
Tarefa fácil, certo?  Afinal o café era o porta bandeira da economia brasileira e não seria difícil vende-lo. Nada disso, pois a crise batia de frente em todos os mercados e o nosso produto não fugia ‘a regra.
Quando desembarcaram no Porto do Panamá, os porões do navio atulhados de café e os nossos atletas com os bolsos vazios. Para piorar a situação, teriam que pagar um pedágio para cruzarem o Canal do Panamá, taxa essa que só isentava, caso fosse um navio militar. E entra o jeitinho brasileiro, onde são instalados dois canhões no convés, mas foi um fiasco. A fiscalização estranhou que a alegre tripulação não tinha um fardamento militar e nem tampouco armas a bordo. Após quatro dias de espera  no porto, a  verba chegou do Rio de Janeiro, sendo então, liberados.
Um mês navegando, chegam a Los Angeles e outra surpresa... para cada pessoa que desembarcasse, seria cobrado 1 dólar. Como a venda do café não obteve bons resultados, apenas 45 dos 82 atletas puderam pisar em terra firme. Outros 13 atletas bancaram do próprio bolso e foram liberados.
O restante permaneceu no navio, que rumou para o Porto de São Francisco, onde o desembarque era gratuito, embora tivessem que viajar por terra até Los Angeles, mas em razão da longa distância, acabaram desistindo e retornaram para casa.
Adalberto Cardoso, corredor paulista não desistiu e foi até Los Angeles, correndo, caminhando, pegando carona durante dois dias para percorrer os 550 km que separam as duas cidades.
Chegou exausto, instantes antes de sua prova, os 10 mil metros e só teve tempo para calçar suas sapatilhas, colocar o uniforme, aquecer-se rapidamente e alinhar-se para a largada.
Chegou à última colocação, porém o público presente no estádio teve conhecimento de todas as dificuldades para estar presente e o aplaudiu de pé.
Tivemos um destaque com a participação da primeira mulher sul americana em uma Olimpíada, a nossa jovem nadadora, com apenas 17 anos, Maria Lenk, que disputou as provas de 100m livre, 100m costas e os 200m peito.
Não conseguimos nenhuma medalha e no retorno ao Brasil, a delegação desembarcou no Rio de Janeiro e, embora soubessem que não haveria nenhuma recepção de gala, não poderiam imaginar o que lhes aguardava.
Ainda durante a viagem de ida, teve início em julho, o conflito armado que resultaria na Revolução Constitucionalista. Como boa parte da delegação era composta por atletas paulistas, o desembarque no Rio de Janeiro, então capital federal, poderia ser perigoso. Ficou decidido que eles embarcariam num cargueiro que os deixaria em Ilhabela com segurança e seguiriam a pé até a cidade de São Paulo.
Passados 80 anos dessa odisseia brasileira, podemos constatar que mesmo avançando em muitos aspectos, os nossos atletas são heróis, representando nosso país e nos enchendo de orgulho

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