terça-feira, 17 de julho de 2012

DADO E O PALESTRA

             
Revolução de 64, os militares tomam o poder, mas para Dado, com oito anos, a revolução de verdade foi a sua estreia num campo de futebol.
Junto com seu tio Pedro, que o segurava firme pelas mãos, com receio que sumisse na multidão, o moleque atravessou o portão principal do Parque Antártica, como se estivesse em outro planeta e com os ouvidos grudados no radinho de pilha, onde narradores e comentaristas debatiam sobre a partida.
A música tocava alto, o barulho dos torcedores, o vendedor de cachorro quente, outro no ooooolhaaaaaaa o picolééééééééé, tudo era festa, aguardando a entrada dos times em campo.
Dado e seu tio subiram os lances da escada, encaminhando-se até o meio da arquibancada e torcedores ansiosos, ajeitando-se em seus lugares. O gramado perfeito com linhas brancas demarcando, caprichosamente, o campo de jogo, as traves com as redes esticadas e os olhares de todos direcionados para as escadas de onde surgiria seu time de coração.
O coração querendo sair do peito até que surge o alvi verde imponente, no gramado em que a luta o aguarda, a arquibancada treme, foguetório, a torcida vibrando, berrando os nomes de seus craques.
O jogo podia não ser um clássico tradicional, mas para Dado, aquele Palmeiras e Juventus era como se fosse uma final de Copa do Mundo.
Quando o Palestra entra em campo, o tio Pedro tenta, sem sucesso, acalmar o pequeno Dado, mas o menino estava vivendo um dia de sonho. Ele conhecia todos os jogadores, colecionava todos os álbuns de figurinhas, tinha um timaço do Palestra no futebol de botão e o verde e branco pintavam seus sonhos de tornar-se um jogador de futebol.
Tinha o genial Ademir da Guia, o incansável marcador Dudu, o ligeiro ponta direita Gildo, a segurança de Valdir no gol, mas seu ídolo era Vavá, centro avante bi campeão mundial em 58 e 62, um verdadeiro leão e artilheiro do time.
De repente!!! Contra ataque do Palestra, o zagueiro adversário dá um chutão para a arquibancada, na direção de Dado, seu tio amortece com suas mãos enormes e entrega para o sobrinho. E ele vem próximo da arquibancada, separado pelo vão dos jardins suspensos do Parque Antártica e pede que a bola seja devolvida. Ele mesmo, seu herói Vavá.
O lateral esquerdo Ferrari bate o lateral, Servilio domina com classe e toca de trivela para Ademir da Guia que, mesmo com dois marcadores partindo para cima dele, dá um leve toque para a direita e faz um lançamento perfeito para Gildo, que avança pela direita, deixa para trás seu marcador, chega à linha de fundo e cruza com perfeição para o meio da área.
Vavá, sempre ele, sobe mais que os zagueiros, mata no peito, dá uma finta de corpo e num voleio sensacional e indefensável, abre o placar para o Palmeiras.
O resultado final foi uma goleada de 6 X 0 frente ao time da Mooca, com 3 gols de Servilio, 2 de Vavá e um de Rinaldo.
Foi a primeira vez que Dado assistiu um jogo no estádio e passados quase 50 anos, ele se lembra de cada lance daquele dia especial com seu tio Pedro, um homem que foi exemplo de caráter, de honestidade, com sua simplicidade e que proporcionou tantos momentos inequecíveis na vida do menino Dado.

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