segunda-feira, 9 de novembro de 2015

ABICAÉ F.C

                                                       

Abicaé. Esse sim era um time de encher os olhos de alegria. Pelo menos para o avô do Julinho, que contava pra todo mundo, com muito orgulho.
Quem passa em frente a casa dele, não resiste e dá uma paradinha para uma boa conversa, geralmente sobre futebol. Sentado na varanda, em sua velha cadeira de balanço, seu Tinoco relembra ,com detalhes, dos velhos e bons tempos do Abicaé F.C.
Seu Tinoco foi centroavante nos anos 70 e dos bons. Diz ele que fez mais de 500 gols e garante que é verdade, tá tudo marcado no seu caderno de anotações.
O neto Julinho não lembra de tudo, mas tem na cabeça, alguns jogos com os grandes de São Paulo. O Santos de Pelé, a Academia do Palestra, o Coringão com as patadas do Rivelino e o tricolor paulista que tinha o craque uruguaio Pedro Rocha.
A torcida ia no Pacaembu, as bandeiras tremulando, bandinha tocando o tempo todo, o delicioso churrasquinho de gato do lado de fora do estádio. As famílias iam pra se divertir.
Os irmãos do Julinho não ligavam muito pra futebol mas o pai, seu Bartolomeu, era Abicaé até debaixo d’água.
Julinho ia no embalo do pai, embora tivesse uma paixão escondida pelo alvinegro da Baixada santista. Tinha um tio do Julinho que detestava o Abicaé, talvez porque tenha sido reprovado numa peneira do clube e era muito ruim de bola mesmo. Desde então, tornou-se o maior secador do Abicaé e, sempre tentando fazer a cabeça do Julinho.
Jogo do Abicaé era bom demais, nem tanto pela partida, muitas vezes, sonolenta, sem graça, mas tinha uma pipoca deliciosa, o cachorro quente, olha o picolé. Bom demais e nem aí pro jogo.
O tempo passou, Julinho cresceu e o Abicaé foi caindo pelas tabelas, a torcida desanimando e o futebol mudando pra pior.
As partidas cada vez mais violentas e os torcedores como se estivessem numa guerra.
 Clássico entre Santos e Palmeiras na Vila Belmiro, Julinho liga a televisão e observa que tem alguma coisa diferente. Cadê a torcida alviverde? Não apareceu nenhuma testemunha.
Ah!!  Os competentes dirigentes dizem que é por questão de segurança, que, dessa forma, conseguem inibir a violência. Concordo que a coisa tá feia e, talvez seja uma maneira de conter esse problema, mas o que impressiona é a reação dos torcedores, como se isso fosse o fato mais normal do mundo.
Não faz sentido, afinal é só mais um jogo de futebol de um campeonato bagunçado, onde torcedores não conseguem dividir o mesmo espaço durante 90 minutos.
A imprensa não tá nem aí, querem saber da cota de patrocínio para o ano que vem, os direitos de transmissão. O dirigente então, preocupado com as rendas dos jogos, se o patrocinador irá renovar o contrato para a próxima temporada e do seu inabalável poder de cartola.
E os jogadores só querem saber se vão ser negociados para o exterior, ganhar uma boa grana, outros serão dispensados ou, quem sabe, podendo ser transferidos para o arquirrival.
Seu Tinoco sente saudades do velho futebol, do seu time do coração, Abicaé F.C.

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